segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Lei da Palmada e da Permanência na escola: Dois temas controversos


Antes de fazer qualquer comentário, coloco a seguir uma matéria publicada no site Terra: 

29 de outubro de 2013 • 17h54
Após proibir palmadas, Suécia "sofre" com geração de crianças mimadas


A proibição das punições físicas a crianças foi incorporada ao código penal da Suécia em 1979.

A Suécia, primeira nação do mundo a proibir as palmadas na educação das crianças, se pergunta agora se não foi longe demais e criou uma geração de pequenos tiranos.

"De uma certa forma, as crianças na Suécia são extremamente mal educadas", afirma à AFP David Eberhard, psiquiatra e pai de seis filhos. "Eles gritam quando adultos conversam à mesa, interrompem as conversas sem parar e exigem o mesmo tratamento que os adultos", ressalta.

O livro "Como as crianças chegaram ao poder", escrito por Eberhard, explica porque a proibição das punições físicas - incorporada de forma pioneira ao código penal da Suécia em 1979 - levou, pouco a pouco, a uma interdição de qualquer forma de correção das crianças.

"É óbvio que é preciso escutar as crianças, mas na Suécia isso já foi longe demais. São elas que decidem tudo nas famílias: quando ir para a cama, o que comer, para onde ir nas férias, até qual canal de televisão assistir", avalia ele, considerando que as crianças suecas são mal preparadas para a vida adulta.
O comportamento das filhas levou o casal Märestad a procurar aconselhamento

"Nós vemos muitos jovens que estão decepcionados com a vida: suas expectativas são muito altas e a vida se mostra mais difícil do que o esperado por eles. Isso se manifesta em distúrbios de ansiedade e gestos de autodestruição, que aumentaram de maneira espetacular na Suécia", diz o psiquiatra.

Suas teses são contestadas por outros especialistas, como o terapeuta familiar Martin Forster, que sustenta que, numa escala mundial, as crianças suecas estão entre as mais felizes. "A Suécia se inspirou sobretudo na ideia de que as crianças deveriam ser ouvidas e colocadas no centro das preocupações", afirma Forster. Segundo ele, "o fato de as crianças decidirem muitas coisas é uma questão de valores. Pontos de vista diferentes sobre a educação e a infância geram culturas diferentes".

O debate sobre o mau comportamento das crianças surge regularmente nas discussões sobre a escola, onde os problemas de socialização ficam mais evidente.

No início de outubro, o jornalista Ola Olofsson relatou seu espanto após ter ido à sala de aula de sua filha. "Dois garotos se xingavam, e eu não fazia ideia de que com apenas 7 anos de idade era possível conhecer aquelas palavras. Quando eu tentei intervir, eles me insultaram e me disseram para eu ir cuidar da minha vida", conta à AFP.

Quase 800 internautas comentaram a crônica de Olofsson. Entre os leitores, um professor de escola primária relatou sua rotina ao passar tarefas a alunos de 4 e 5 anos: "Você acha que eu quero fazer isso?", disse um dos alunos. "Outro dia uma criança de quatro anos cuspiu na minha cara quando eu pedi para que ela parasse de subir nas prateleiras".

Após um estudo de 2010 sobre o bem estar das crianças, o governo sueco ofereceu aos pais em dificuldade um curso de educação chamado "Todas as crianças no centro". Sua filosofia: "laços sólidos entre pais e filhos são a base de uma educação harmoniosa de indivíduos confiantes e independentes na idade adulta".

Um de seus principais ensinamentos é que a punição não garante um bom comportamento a longo prazo, e que estabelecer limites que não devem ser ultrapassados, sob pena de punição, nem sempre é uma panaceia.

"Os pais são instruídos a adotar o ponto de vista da criança. Se nós queremos que ela coopere, a melhor forma de se obter isso é ter uma relação estreita", afirma a psicóloga Kajsa Lönn-Rhodin, uma das criadoras do curso governamental. "Eu acredito que é muito mais grave quando as crianças são mal-tratadas (...), quando elas recebem uma educação brutal", avalia.

Marie Märestad e o marido, pais de duas meninas, fizeram o curso em 2012, num momento em que eles não conseguiam mais controlar as crianças à mesa. "Nós descobrimos que provocávamos nelas muitas incertezas, que elas brigavam muito (...) Nós tínhamos muitas brigas pela manhã, na hora de colocar a roupa para sair", relembra essa mãe de 39 anos. "Nossa filha caçula fazia um escândalo e nada dava certo (...) Nós passamos por momentos muito difíceis, até decidirmos que seria bom se ouvíssemos especialistas, conselheiros", conta Märestad, que é personal trainer em Estocolmo.

O curso a ajudou a "não lutar em todas as frentes de batalha" e a dialogar melhor. Mas para ela, as crianças dominam a maior parte dos lares suecos. "Nós observamos muito isso nas famílias de nossos amigos, onde são as crianças que comandam".

Segundo Hugo Lagercrantz, professor de pediatria na universidade Karolinska, de Estocolmo, a forte adesão dos suecos aos valores de democracia e igualdade levou muitos a almejarem uma relação de igual para igual com seus filhos. "Os pais tentam ser muito democráticos (...) Eles deveriam se comportar como pais e tomar decisões, e não tentarem ser simpáticos o tempo todo", diz Lagercrantz.

Ele vê, contudo, algumas vantagens nesse estilo de educação. "As crianças suecas são muito francas e sabem expressar seu ponto de vista", afirma. "A Suécia não valoriza a hierarquia e, de uma certa forma, isso é bom. Sem dúvida, esta é uma das razões pelas quais o país está relativamente bem do ponto de vista econômico".
 
Fonte: (http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/apos-proibir-palmadas-suecia-sofre-com-geracao-de-criancas-mimadas,477a68fadb402410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html)

Bom, diante desta matéria, vou colocar minha opinião: 

Penso, baseado em meu próprio aprendizado quando criança que, caso haja a repetição de um comportamento inadequado, já anteriormente chamado a atenção uma ou duas vezes pelos pais de forma verbal e sem o entendimento da criança, ou quando esta última o repete como forma de afrontar ou testar a autoridade dos pais, uma palmada na mão ou na bunda da criança, na região glútea (não em pernas, braços, costas, cabeça, etc) e com a palma da mão - DE FORMA SENSATA E MODERADA, explicando exatamente e naquele instante o motivo pelo qual esta ocorrendo a punição, pode sim ser produtivo. Também vejo o castigo na forma de retirar o que a criança mais gosta (vídeo game, desenho, computador, etc) como algo produtivo. Mas essa é só a minha mera opinião. Enfim.

Há que se levar em conta fatores subjetivos também, como o cansaço dos pais, a falta de paciência, a capacidade de levar o filho a sério, como ser que pode entender a conversa como algo instrutivo e limitador do comportamento inadequado. Muitos pais acham que a criança não entende um olhar mais carrancudo ou uma mudança no tom de voz como forma de limitar o que ela está fazendo errado. Mas entendem. Por isso as pessoas de mais idade vez por outra dizem: "Era só o pai olhar de cara feia pra gente que já parávamos de fazer bagunça". 

A questão da Lei da palmada é controversa, pois vem ampliar, a meu ver, os direitos da criança definidos com a criação do ECA. Foi retirado dos pais a capacidade de limitarem os filhos, tendo em vista as crianças utilizarem-se de birras ou até mesmo comportamentos agressivos com os genitores quando não tem seus desejos atendidos. 
Mas e por que isso acontece? 
Talvez em parte pelo mercado consumista que temos hoje, que transforma a criança em um adulto precoce, desejando cada vez mais o que o outro tem ou o que o mercado oferece. E os pais, se desdobram em três turnos para conseguirem prover aos filhos aqueles caprichos que eles querem. 

E se pai e mãe não tem condições? Os filhos berram, esperneiam, chutam e dão soco nos pais, derrubam e quebram coisas em casa. Ou no supermercado. E se os pais tomam alguma atitude mais enérgica, são castrados por olhares de outras pessoas, quando não ameaçados de serem denunciados no Conselho Tutelar. Ficam, então, privados de ação.

O Conselho Tutelar, tendo como uma de suas atividades fins, pode vir a retirar a criança do convívio dos pais, como forma de protegê-la de abusos e colocá-la em uma casa de passagem, local desconhecido pela maioria das pessoas e esquecido pelas prefeituras em termos de manutenção de estrutura e provimento de recursos humanos capacitados. Sem falar na questão da alimentação deficitária. E eu sei do que estou falando. Punem-se os pais, pune-se a criança.

Mas espere aí: De todo talvez essa Lei não seja tão absurda assim. Num propósito mais amplo, talvez ela, a Lei, esteja cobrando dos pais mais atenção aos filhos e um cuidado mais próximo sobre sua conduta. Mas como fazer isso se pai e mãe trabalham fora, por exemplo? Acabam por transferir a responsabilidade do "educar" para a escola. 


Aí temos outro problema: A escola não "educa", ela "ensina" de forma didática. A educação tem que partir de casa, é o que ouço de pais e mães que converso e é um olhar que concordo. 

Só que, novamente, e num Stricto Sensu que é o ensino escolar, entra em pauta um Projeto de Lei o qual quer acabar com as punições a alunos na escola. Como passar um conteúdo a trinta alunos quando se tem três ou quatro que atrapalham a aula? Uma das formas era separar o joio do trigo. Retirar o aluno da sala, dar uma suspensão de alguns dias, até chegar o extremo da expulsão. Eram formas adotadas pelo modelo clássico das escolas. Agora não se pode mais. 

Então o que fazer? 

Conversando com uma amiga de trabalho, ela me disse algo interessante: "Rodrigo, há que se mudar o modelo de formação de pais e professores". E eu pensei comigo que aquela explicação era demasiado sintética e queria mais detalhes. Então ela me disse que a escola deveria ser um local lúdico, um local atrativo para aquelas crianças que um dia se tornariam pais. Um lugar onde a criança, o adolescente, o adulto, o professor fosse ensinado a pensar e não a simplesmente reproduzir um modelo clássico e no qual certos conteúdos são questionados de sua aplicabilidade prática no dia-a-dia. 

Devido a este modelo que temos hoje, há grandes níveis de evasão escolar. A escola não é atrativa ao aluno, isso resulta em desinteresse de conteúdo e falta de atenção dentro da sala.

A criatividade passaria a ser ferramenta indispensável ao professor e ao aluno, de maneira que ambos participassem ativamente do processo construtivo do saber, e não somente o
professor sendo o lado ativo e o aluno o espectador passivo. Em escolas rurais talvez tirássemos um bom aprendizado desse exemplo, visto que professores precisam ensinar quatro séries diferentes, com quatro níveis de idade e por conseguinte de capacidade cognitiva, numa mesma sala de aula.



Deixo no ar o assunto para possíveis discussões ou comentários. 

Voltando à questão dos pais e filhos. É um assunto complexo devido à subjetividade de cada um. Vejo filhos hoje adultos agradecendo a firmeza dos pais quando aqueles eram crianças. Vejo os adolescentes de hoje dizendo que nunca proibirão os filhos de nada quando ficarem adultos, porque não querem passar pelas restrições que eles passam hoje com os pais em casa. Vejo pais que não tem tempo de conversar com seus filhos ou acompanhar seu desempenho escolar devido a motivos de necessidade básica dando coisas materiais para compensar sua ausência afetiva. 
 
Mas também vejo pais com dois ou três empregos se virando para se fazerem presentes na vida e educação de seus filhos. 




O fato é que estamos desconexos. Desconexos de uma cadeia harmoniosa de ensino e aprendizagem para a vida, para o contato social, para os valores familiares. Estamos no meio de um furacão de mudanças, tentando recriar ou criar um modelo a partir de Políticas Públicas que nos permita refazer o elo de todas as coisas da natureza humana. E estamos indo por tentativa e erro.

Rodrigo Martins

Nenhum comentário:

Postar um comentário