Eram os idos anos de 1964.
Conta a Professora Lourdes Thomé aos seus alunos, que não estavam dando a atenção adequada à aula de matemática:
" O rapazinho estava à procura do seu primeiro emprego. Já havia ido a vários lugares, mas sempre ganhava um não como resposta. Então, foi a uma mercearia, antigamente chamada de Quitanda, onde estavam precisando de alguém que soubesse lidar no caixa.
O dono da mesma lhe propôs um teste:
- Para você ser admitido, preciso que descreva toda a tabuada do nove! Vou lá no depósito arrumar umas coisas e quando eu voltar, quero que me apresente o resultado.
O rapaz gelou por dentro. Entrou em desespero. Como ia resolver aquele problema? Nunca fora bom em matemática, ainda mais na tabuada do nove. Ele Suava frio. Sabia que não podia perder aquela oportunidade de trabalho.
Lembrou-se que sabia apenas quanto era nove vezes um e nove vezes dez. Pegou então um papel e escreveu a tabuada na seguinte sequência:
9 x 1 = 09
9 x 2 =
9 x 3 =
9 x 4 =
9 x 5 =
9 x 6 =
9 x 7 =
9 x 8 =
9 x 9 =
9 x 10 = 90
Olhou para o papel e para os números ausentes. Suas mãos tremiam. Uma vontade imensa de fazer xixi veio naquele momento, mas teve que se segurar, pois não podia sair dali.
Resolveu contar quantos números ele não sabia da tabuada do nove, e então escreveu-os no papel:
9 x 1 = 09 |
9 x 2 = 1 |
9 x 3 = 2 |
9 x 4 = 3 |
9 x 5 = 4 |
9 x 6 = 5 |
9 x 7 = . |
9 x 8 = . |
9 x 9 = . \/
9 x 10 = 90
Ao final, Olhou o que havia escrito....
9 x 1 = 09
9 x 2 = 1
9 x 3 = 2
9 x 4 = 3
9 x 5 = 4
9 x 6 = 5
9 x 7 = 6
9 x 8 = 7
9 x 9 = 8
9 x 10 = 90
Tremeu, já haviam se passado três ou quatro minutos e o dono da mercearia poderia aparecer a qualquer momento. Não sabia o que fazer. Arrependeu-se imensamente por não ficar atento às aulas de matemática. Quis fugir dali, mas não seria covarde a tal ponto. Preferiu enfrentar um outro não a ser chamado de covarde.
Olhou novamente para o papel e resolveu contar, de novo, quantos números da tabuada NÃO sabia responder. Ouviu os passos vindo lá do fundo da mercearia. Estava tão nervoso, que nem se deu conta que já havia feito aquela contagem alguns minutos atrás. E começou, agora de baixo para cima:
9 x 1 = 09
9 x 2 = 1 . /\
9 x 3 = 2 . |
9 x 4 = 3 . |
9 x 5 = 4 5 |
9 x 6 = 5 4 |
9 x 7 = 6 3 |
9 x 8 = 7 2 |
9 x 9 = 8 1 |
9 x 10 = 90
Entrou em desespero! Estava se borrando de medo. Olhou, trêmulo para o que acabara de fazer:
9 x 1 = 09
9 x 2 = 1 8
9 x 3 = 2 7
9 x 4 = 3 6
9 x 5 = 4 5
9 x 6 = 5 4
9 x 7 = 6 3
9 x 8 = 7 2
9 x 9 = 8 1
9 x 10 = 90
Os passos se aproximaram do balcão onde ele estava. Tentou, apressadamente pegar a borracha que estava dentro do porta lápis, para apagar tudo o que havia escrito e começar de novo, ou ao menos entregar em branco e admitir que não sabia fazer aquelas contas. Queria evitar maior vergonha. Mas não houve tempo. O dono da mercearia aproximou-se, pegou o papel que o rapaz havia escrito e olhou-o com atenção.
O rapaz fechou os olhos, ouvindo o silêncio que precede o esporro e a resposta negativa que viria na sequência, quando o dono da mercearia levantou os olhos para ele e falou:
- Rapazinho. Ninguém conseguiu responder a tabuada do nove até este momento. Parabéns, está tudo correto. Está contratado! "