Por Dom Lawson
Traduzido por Nacho Belgrande

Ele pode ser um gigante de fala macia cujo sorriso gentil e aperto de mão firme, mas não aterrorizante, sugere uma autoconfiança silenciosa, mas Michael ‘Danny’ Francis passou a maior parte de 40 anos salvando astros do rock de todo sortilégio de situações perigosas. Ele é, sem dúvida, o guarda-costas dos guarda-costas. O único homem no planeta que farreou com um Elvis Presley chapado de cocaína, foi babá de Cher, salvou Paul Rodgers do Bad Company de levar uma surra [várias vezes], e esteve ao lado de Jon Bom Jovi desde o tempo do humilde Ipswich Odeon até o mundo muito mais salubre dos jatinhos particulares lotados de groupies nas alturas. Tal como sua autobiografia de 2005, Star Man: The Right Hand of Rock N’ Roll – publicada sobre o nome Michael Francis – indica, em sua vida, esse avô de 60 anos de idade nascido na zona norte de Londres já viu, e fez, basicamente tudo. E se você quisesse tentar a sorte, ele provavelmente poderia quebrá-lo como um graveto.
Eu comecei como guarda-costas quando Paul McCartney me ofereceu um emprego. Meu pai era técnico de boxe, e o primeiro campeão mundial que ele treinou foi John Conteh, e Paul costumava vir e assisti-lo treinar. John tinha aparecido na capa de Band on the Run, e Paul era um grande apoiador de John. Uma noite ele simplesmente me pediu pra trabalhar pra ele. McCartney era incrivelmente famoso naquela época, mas ele sempre foi um sujeito fantástico. Eu ficava na casa deles, com Linda e os garotos, e ele era um dos caras mais legais que você jamais vai conhecer. Através dele, eu fui apresentado ao empresário do Led Zeppelin, Peter Grant, e acabei trabalhando pra ele por oito anos.

LED ZEPPELIN
Quando eu conheci Peter Grant e comecei a trabalhar pro Led Zeppelin, de repente era como o Velho Oeste. Eles faziam as regras de acordo com a hora, porque naquela época, não havia regras. O Led Zeppelin foi a primeira banda a jogar televisores por janelas. O excesso era ultrajante. Eu lembro que recebíamos cinco mil por semana para despesas pessoais da banda e você não tinha que apresentar recibos. Quando acabava você só voltava lá e pegava mais dinheiro. Era uma época maravilhosa. Eu amava Peter Grant, e ele era um amigo muito próximo até o dia em que morreu. E ele era um gênio. Ele tomou a decisão de investir tudo que ele tinha no Zeppelin, e ninguém ia roubá-los. Ele era um gatinho de coração, mas quando o assunto era a banda dele, ele era como um leão. Isso funcionou muito bem até que ele sucumbiu às drogas pesadas, como todo mundo. Daí virou uma zona total e todo dia era uma luta pela sobrevivência. Só colocar a banda no palco já era duro. Peter era amedrontador se você não estivesse do lado dele. Se você estivesse do lado dele, ele te apoiava 100 por cento. Se não, ele era de dar medo. E ele tinha caixa pra isso – ele pesava 180 kilos e media 1,95m.
Foto: Peter Grant, o empresário do LED ZEPPELIN
ELVIS PRESLEY
Eu tive algumas experiências incríveis ao longo dos anos. Eu tinha acabado de começar a trabalhar para Peter Grant quando eu conheci Elvis Presley. O Led Zeppelin estava em Vegas e passamos dois dias com Elvis. Ele era demais. Tudo o que ele fez durante os dois dias que estivemos com ele foi dar presentes para as pessoas, como relógios, roupões e jóias. Ele devia ter umas 20 pessoas com ele o tempo todo; todo mundo estava dizendo sim. E ele estava usando cocaína na época, então você já via o fim chegando. Todos nós pensávamos que o encontraríamos mais e mais vezes, mas isso jamais aconteceria.
Nós também conhecemos o empresário de Elvis, Coronel Tom Parker. Ele era o maior pilantra que já nasceu. Quando ele morreu, devia 20 milhões de dólares aos cassinos. A maioria dos filmes de Elvis foi feita para pagar as dívidas de jogo do Coronel. O boato era que ele tinha matado uma mulher na Holanda, e é por isso que ele sempre tinha medo de sair dos EUA. E isso não fez muito bem para Elvis. Isso é o rock n’ roll. Tudo gira em torno de personagens. Os empresários são sempre muito mais interessantes que os astros do rock.
BAD COMPANY
Paul Rodgers era uma porra de um pesadelo – e era assim que Peter Grant o descrevia [risos]. Eu tinha passado pelo meu aprendizado com o Led Zeppelin, mas se eu não tivesse, não teria durado um dia com Paul Rodgers. Paul era um cara fantástico desde que não bebesse um copo. Quando ele bebia, ficava incontrolável, porque ele podia chutar o rabo de qualquer um. Passamos pelos EUA com o Bad Company e provavelmente acabamos em uma briga de algum tipo toda noite. Eu sabia que seria um pesadelo na primeira noite. A banda estava ensaiando em Dallas, no Texas, e acabamos por volta das 10 da noite e daí fomos sair pra comer algo e acabamos num bar de motoqueiros.
Duas horas depois Paul estava bêbado e disputando queda de braço com os motoqueiros. Então eu distribuí algumas notas de 100 dólares pro pessoal de modo que pudéssemos sair sem sermos mortos. Essa foi só a primeira noite. E piorou. Eu me sentia mal pelos outros caras na banda porque eles eram todos hippies legais. Eles todos estão sóbrios agora e se dão muito bem, graças a Deus.

BON JOVI
Quando eu comecei a trabalhar para Jon ele ainda estava viajando em um ônibus de turnê, mas dentro de seis meses ele tinha seu próprio jato com o nome dele gravado. O Bon Jovi estava prestes a ter seu contrato com a gravadora cancelado, e então Slippery When Wet foi lançado e chegou ao topo das paradas enquanto ainda estávamos tocando no Ipswich Odeon. A Slippery When Wet tornou-se a melhor turnê de rock n’ roll de todos os tempos.
As drogas, as mulheres, tudo era feito com moderação. Nós nunca cancelamos um show, nunca perdemos ninguém no meio do caminho e ninguém sabia de fato o que estávamos fazendo. Houve mais groupies naquela turnê do que em qualquer turnê da história do rock n’ roll. Cerca de 75 por cento da platéia em todos os shows – e estávamos tocando pra 25 mil pessoas toda noite – eram moças entre 16 e 25 anos de idade e todas elas vinham ao show com uma coisa na cabeça: elas queriam dar pro Jon. Jon sobreviveu porque ele é um cuzão. Mas ele é o cuzão mais trabalhador do show business. Ele não vai se incomodar que eu diga isso.
AXL ROSE
Encontramos-nos com Axl nos anos 80 quando o Bon Jovi estava no auge. Ele e Jon nunca se deram bem, de modo algum. Eles sempre estavam disputando pelo topo. Eu só achava que Axl era uma farsa total. Eu cresci com a escola inglesa de música, com vocalistas do naipe de Robert Plant e Roger Daltrey, astros do rock de verdade. Esse cara era uma farsa. Ele escreveu coisas muito boas, mas vai se fuder!, aquilo nunca foi a maneira certa de se comportar. Você constrói sua reputação nas coisas que você faz em cima do palco, e eu acho que ele não tinha gás pra isso, especialmente quando você o compara a Jon, que era o maior frontman do mundo naquela altura.
Conseguíamos manter os dois afastados com muita dificuldade. Mas até ai, estávamos todos prontos para esbofetear Axl de qualquer jeito, então ele não daria conta. Olhe pra Jon agora: um dos homens mais ricos da indústria musical, com a maior banda ao vivo do mundo hoje. Então eu apoiei um vencedor.
SEBASTIAN BACH
O Skid Row abriu shows pro Bon Jovi por oito meses em sua primeira turnê da carreira. Eles estavam ficando cada vez mais famosos e as tensões se acumularam. Uma noite, Sebastian disse algo no palco. Eu e Jon estávamos no camarim, e Jon se ofendeu com aquilo e estava esperando Sebastian quando ele saiu do palco. Eles ficaram cara a cara e Jon não arregou. E, considerando o tamanho dele perto do de Bach, ele não fez feio. Nós o arrastamos pra longe e foi isso. Foi animador e deu vida à turnê [risos]. Jon acabou fazendo o melhor show da vida dele naquela noite. Na noite seguinte nós subimos no palco, no show do Skid Row, os deitamos no palco, seguramos-os e os prendemos a cadeiras com fita adesiva, então nos vingamos.
CHER
Trabalhar com Cher foi o melhor emprego que eu já tive. Ela é simplesmente uma pessoa especial. E ainda é, de dentro e de fora da música. Ela é provavelmente a pessoa mais bondosa e genuína que eu já conheci, e a mais talentosa também. Quando a encontrei pela primeira vez foi num famoso restaurante de Chicago, chamado Gene And Georgetti’s. Ela estava começando a sair com Richie Sambora. Eles tinham uma sala separada e vieram até mim e Richie me apresentou como Reggie Kray; eu e Jon costumávamos nos registrar em hotéis como Reggie e Ronnie. E Cher disse: “Fico feliz por você ser o Reggie e não o Ronnie!” Ela tinha feito o dever de casa e sabia de tudo sobre eles. Eu acabei morando com Cher numa praia em Malibu por três anos. Então ficamos muito próximos. E ainda somos amigos até hoje.
KISS
Eu tenho trabalhado pro Kiss há 15 anos já. Gene Simmons e Paul Stanley são completos profissionais. Eles sempre estão acordados antes de todo mundo e ainda ralam muito, mesmo nessa idade. É por isso que eles ainda estão por aí e 90 por cento das bandas daquela época não estão. Eles nunca tiveram uma noite ruim. Eles sempre saem do camarim e dão 100 por cento – e não se trata de sentar em um banquinho e tocar violão, como Sting. Eles estão voando, respirando fogo, eles cospem sangue.
Quando o Kiss fez a turnê de reunião em 1996 com a formação original, Ace e Peter eram o completo oposto de Gene e Paul. Eles eram totalmente antiprofissionais e não muito gentis com as pessoas a seu redor. Se você pudesse contrabalancear isso com, ‘Oh, ele é um grande guitarrista!’, ou ‘Ele é um grande baterista!’ não teria sido tão ruim, mas você não podia fazer isso. Fomos assistir ao The Who durante aquela turnê e o empresário deles, Bill Curbishey me chamou e disse: “Quero que você veja algo…” E ele me fez assistir ao solo de baixo de John Entwistle. Era ultrajante. Então nós fizemos com que Bill viesse assistir ao Kiss e nós o fizemos ver o solo de bateria de Peter. Bill o assistiu por um minuto e disse: “Chame a polícia. Eu quero que prendam esse homem por se passar por um baterista.”
‘Star Man: The Right-Hand Man of Rock’N’ Roll’, de Michael Francis, é publicado pela editora inglesa Simon & Schuster e não tem previsão para lançamento no Brasil.
Fonte: Revista Classic Rock Inglesa, edição de Junho de 2011.
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