
Talvez pelo fato de existirem serviços especializados em atender pacientes com esta demanda, talvez pelo aperfeiçoamento das medicações que controlam a reprodução do vírus no corpo humano, talvez pela responsabilidade de trabalhar com campanhas de prevenção ter se tornado regionalizada (ao estado, ao município).
Nascidos nos anos 70 e 80 foram bombardeados de informações a respeito da AIDS, por não existir cura e ser uma doença fatal. Vimos ídolos da música como Freddy Mercury, Renato Russo e Cazuza sucumbirem à essa doença. Assistimos na tv quase que mensalmente a índices de saúde que informavam o aumento das pessoas contaminadas pelo vírus. Houve uma histeria coletiva quando foi comunicado à população que os grupos de risco (gays, usuários de drogas) não existiam mais e a doença estava atingindo pessoas de todas as classes sociais. Crescemos levando uma ou duas camisinhas na carteira para o caso de uma eventualidade. E aplaudimos quando as mulheres ganharam força para exigir de seus parceiros o uso do preservativo e o teste de HIV a cada ano ou novo relacionamento.
Mas com a atual geração, nascida a partir de 1995, a questão é:
Há um "relaxamento" dos jovens em relação à atenção que devem dar a UMA DOENÇA QUE AINDA HOJE (2015, século XXI) NÃO EXISTE CURA! E digo um relaxamento no sentido de estarem sentindo-se mais à vontade em conviver com este assunto e também a um estado de não fazerem muita questão de se informar sobre ele e sua gravidade, ou seja, serem relaxados em termos de informação e de auto cuidado. Já ouvi adolescentes desinformados dizerem: "Ah, aids já tem cura, dá pra tomar o remédio, não precisa mais usar camisinha".
Mas Rodrigo, você não pode falar isso, não pode chamar os jovens de relaxados, não pode generalizar. Posso Sim! E não estou generalizando. Pergunte ao seu filho/filha, sobrinho, amigo/a adolescente o que ele/a sabe sobre aids.
A utilização e eficácia das medicações de controle (coquetéis) estão colocando a AIDS na vala das doenças comuns que podem ser tratadas com facilidade. Mas não há cura!!!!!!!
Trabalho com adolescentes, jovens adultos e adultos. E há um desconhecimento por parte deles a respeito desta doença. Quanto aos adultos, infelizmente persiste aquela velha e errada ideia contra o uso de preservativo: é como comer bala com papel.
Uma segunda questão: Ainda há grande resistência das escolas em tratarem como temas transversais a questão da AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis (dsts) com seus alunos. Para que se possa falar sobre o assunto em forma de palestra, mostrar formas de prevenção como a camisinha, há que se mandar uma autorização para os pais do aluno. Na sequência, temos alguns pais que ainda acham que se o filho/filha assistir uma palestra sobre um tema relacionado à sexualidade, vai estar sendo incentivado a uma vida sexual a qual talvez eles ainda não tenham sido expostos ou não estejam preparados. E aí, os entraves para a informação do jovem sobre este tema começam. Logo, penso que esta orientação deveria começar dentro de casa, dada pelos próprios pais a seus filhos.
Converso com adolescentes que me falam que já fizeram sexo sem camisinha. Alguns porque não sabem colocá-la, outros porque até colocar vai brochar, outros porque na hora H só o que interessa é o ato em si. E são meninos e meninas! Acabo por dar orientações de cuidados básicos até a correta prevenção.
E a coisa ainda é mais ampla. Há diversas doenças sexualmente transmissíveis que não somente a AIDS.
Há alguns dias atendi a uma mãe e seu filho no Pronto-Socorro do hospital o qual trabalho. Ela suspeitava que o filho estava usando drogas. O exame resultou negativo. Então conversei sobre a questão da prevenção de dsts, já que o uso de drogas está ligado à possibilidade do jovem contrair alguma dst.
Em determinado ponto da conversa, falei que além da aids, havia outras dsts que poderiam ser contraídas e que poderiam causar feridas, ardência ou corrimento na região genital, tanto do homem quanto da mulher. Ao final, quando estava encerrando o atendimento, o adolescente pediu para falar comigo em particular. Relatou que estava com feridas na cabeça do pênis e coceiras na região genital, que traziam dor quando na realização do ato sexual.
Perguntei se ele havia usado camisinha, ele informou que não e que a menina tornou-se sua namorada desde então. Então questionei se ele havia percebido alguma ferida na região genital de sua namorada, se ele havia falado para ela sobre as feridas em seu pênis ou se ela havia comentado alguma coisa com ele sobre as feridas em sua vagina, até como forma de um proteger ao outro. Ele falou que nenhum dos dois comentou nada com o outro, mas que ele percebeu que a região genital dela apresentava certas feridas. No entanto, não deu muita bola. Perguntei se antes dele estar com ela, ele já apresentava estas feridas ou foi após conhecê-la, ao que não soube me responder. Orientei a falar para a mãe e a buscar atendimento com um urologista, bem como dizer para sua namorada procurar um ginecologista, pois provavelmente haveria a necessidade do uso de medicação.
Há que se retomar as campanhas contra a AIDS para este público que nos dias de hoje são adolescentes e que estão iniciando a vida adulta.
Pais! Não existe mais espaço para vergonha de conversar com seus filhos sobre sexualidade. Procurem se informar sobre o vírus HIV e dsts e conversem com eles. A educação e a informação começam em casa!
E você, adolescente que talvez esteja lendo essa matéria, cuide da sua saúde, use preservativo ou exija que seu parceiro use. Se informe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário