segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A contramão de Pelé e a questão da discriminação

Estamos passando por um período no qual estão ocorrendo diversas tentativas de mudanças de paradigmas. 

É um período turbulento, já que mudanças tendem sempre a desacomodar pessoas e rotinas. Já é de tempo que o país, de forma claramente correta, luta contra o racismo. É algo que continua existindo em pleno século XXI e que, apesar de sermos um povo marcado pela miscigenação, infelizmente temos sim o racismo vigorando em nossas ruas.

Enquanto são criadas Leis que impõem a aceitação de diferentes opções de escolha pessoal, como forma de se ter um país mais igualitário, não se faz uma revisão das leis que punem transgressores, atualizando-as aos tempos atuais, equalizando o tamanho das penas à gravidade dos crimes e contravenções. Existem muitos direitos, poucos deveres e uma enorme inclinação de minimizar ao máximo as penas. 

Criam-se Políticas Públicas na tentativa de melhorar as condições adversas no país, mas nada se modifica se o indivíduo não der um passo em direção a mudar seus próprios conceitos internalizados desde a infância, mas que já não se adaptam assertivamente aos tempos atuais. 


Pelé

Em junho de 2013, alguns milhares de cidadãos se levantaram contra a Copa das Confederações, contra a realização da Copa do Mundo em 2014 e contra as condições de saúde, segurança, estrutura e transporte. E o Rei Pelé, em entrevista às redes de televisão, pediu às pessoas que não se manifestassem, pois isso seria ruim para a imagem do país. Palavras infelizes pronunciadas em momento inoportuno. 

Infeliz também foi o Ronaldo Nazário ao comentar: "Com hospitais não se faz Copa do Mundo". Lamentável. 

Pelé ressaltou as mesmas palavras ditas em 2013 no início da Copa do Mundo. E foi execrado pela opinião pública novamente. Mas como o pensamento dele é o mesmo do Ronaldo "Eu sou uma figura pública, não vai acontecer nada", e sensatez é uma coisa que o Rei do futebol parece desconhecer, novamente ele proferiu suas palavras eloquentes no episódio de racismo ao goleiro aranha, dizendo que ele agiu "errado" ao ficar irritado com as provocações. 

Já dizia Romário: o Pelé calado é um poeta! 

Penso que em nenhum momento deve-se menosprezar o goleiro em sua reação legítima. Se temos uma população que em sua grande maioria é contra o racismo, precisamos apoiá-lo em sua indignação. Há que se superar preconceitos raciais e de gênero a todo custo. 

Por outro lado... 

A torcedora do Grêmio foi pega como bode expiatório nesse episódio. E sua imagem está sendo explorada exaustivamente pelas emissoras de televisão. Sempre que se fala do incidente, é o seu rosto exposto na matéria. Claro que está explícita a palavra dita por ela, o que só valida sua participação no fato. Mas em nenhum momento as câmeras de tv mostraram que a torcida do Grêmio é composta tanto de brancos como de negros. E que estes mesmos torcedores negros também estavam xingando o goleiro. Na imagem é possível ver ao menos dois deles.

 
Uma vez em uma aula da faculdade, assisti um documentário sobre discriminação racial com a Professora Jane Elliott, de nome "Olhos Azuis" (Blue Eyed, 1996). O objetivo do workshop era fazer com que pessoas de raça branca recebessem o tratamento que pessoas de raça negra recebem nos EUA, por apenas uma tarde. O documentário é simplesmente fantástico. É de mudar conceitos e levar à reflexão. Recomendo muito! 




Há que se ter bom senso no que diz respeito a tratar tudo como discriminatório. 

Há que se ter pena "para" (e não dos) os torcedores do Grêmio por uma atitude tão retrógrada e tosca. Precisam pagar pelo que fizeram. Mas nem todos agem assim. Melhor não generalizar.

E há que se tapar a boca do Pelé com esparadrapo para parar de falar besteira. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário