sábado, 14 de agosto de 2010

E Davi venceu Golias

Eu queria escrever este texto há tempos, mas fui deixando e só saiu agora.... Mas é um fato a se registrar.

O GP da Hungria de Fórmula 1 deste ano tinha tudo para ser mais um GP monótono, como sempre foi em Hungaroring. Um circuito travado, com pouquíssimas ultrapassagens que nem as narrações empolgadas do Galvão, (onde ele vê coisas - pra não dizer que inventa - que nós mortais, que gostamos de Fórmula 1 e estamos tão atentos quanto ele, não vemos) fazem com que consigamos passar em torno de 90 minutos sentados na frente da tv.


Para início de conversa não vou me pagar de santo e dizer que eu, como brasileiro também, não critiquei várias vezes Rubinho por suas atitudes, seja na pista ou fora dela. Critiquei sim, falei que ele era a marionete da Ferrari, etc, etc, etc. Mas como brasileiro tem memória curta, a cada nova corrida eu esquecia da raiva e alimentava uma nova esperança de vitória que poderia vir dele. 


Esta justificativa vem em decorrência da sequência do texto abaixo.

Não me apegando à ordem de, em que volta os fatos ocorreram, enquanto Massa (à contragosto) abria caminho para Alonso passar, depois de inúmeros pedidos de seu engenheiro, Barrica disputava o 10º lugar com o Dick Vigarista Schumacher.
 

Em meio a isto, vez por outra me passava pela cabeça as vezes que a Ferrari pedia para Rubens deixar o Schumacher passar. Aquela entrega de posição no GP da Àustria em 2002 sempre ficou engasgada, como ficou engasgada a empolgante narração do Cléber Machado, que dizia: "Hoje não, hoje não............ hoje sim, hoje sim...". Mas desta vez não tinha Ferrari pra mandar o engenheiro dizer pro Barrica segurar atrás do Schumacher. Não tinha Jean Todt ou Ross Brawn para argumentar que Schumacher tinha mais pontos ou que a dobradinha seria bom para os construtores. Só tinha rubinho.... correndo com uma Williams a qual não passava da 15ª posição no começo da temporada. Digo isso porque é ele quem está ajudando (e muito) a desenvolver o carro nesta temporada.
 

E tinha Schumacher.... 41 anos, heptacampeão, vivendo de glórias do passado. Com um bom carro, mas que visivelmente agora, confirmava o que muitos brasileiros sempre desconfiavam: Andando na frente, sem adversários para disputar posições, ele era o melhor. Sempre correu com os bandeirinhas tremulando bandeiras azuis para que os outros carros abrissem passagem. Não brigava por posições. Mas neste ano era outra estória. Largando no meio do bolo é que o verdadeiro Schumacher aparecia. Mostrava dificuldades em fazer ultrapassagens, tanto que ficou mais de 10 voltas atrás do Kubica??? ou do Petrov?? ou do Hulkenberg?? num gp deste ano, sem conseguir passar. Além disso, sempre usando de suas artimanhas para dificultar um eventual ataque de outro piloto.
 

E com Rubens não foi diferente. O Golias não tinha mais a proteção da Ferrari. Não tinha o privilégio das bandeiras azuis. Mas estava sob pressão, tendo que mostrar serviço perante seu companheiro de equipe - Nico Rosberg, que vinha melhor colocado no campeonato que ele.

Barrica tinha o apoio da equipe que nunca foi de dar preferência a algum de seus pilotos, tanto que no campeonato entre Piquet e Mansel em 1986, numa disputa por posições, ambos acabaram errando, dando de graça a vitória para Alain Prost, campeão daquele ano frente às Williams.
 

Após algumas voltas de aproximação, entraram na reta de largada. Galvão Bueno já não narrava a disputa com empolgação. Talvez pelo fato da posição a qual estavam disputando. Talvez por não acreditar que o Davi ousaria colocar a faca nos dentes e abrir caminho à força contra o seu piloto preferido por anos, nas narrações em que ele babava ovo do Schumacher. Nunca esqueço uma de suas falas: "Eu sou Schumacher desde criançinha" (Que patriotismo, hein Galvão?). Ainda bem que o seu contrato vai só até 2014!
 

Mas o "Davi" Barrichelo ousou botar a faca nos dentes e abrir caminho à força. À força de seu motor, de sua visão em tomar a linha de dentro, mesmo percebendo que Schumacher estava no meio da pista, sem tomar lado algum. E o Dick Schumacher fez o de sempre: olhou pelo retrovisor e jogou o carro pra linha de dentro, mesmo percebendo a roda dianteira de Rubens aproximando-se de sua roda dianteira. Foi espremendo o Barrica contra o muro mas ele não recuou. Não desta vez.... "Hoje não, Hoje não!!!!!" (Galvão, Por que você não gritou na narração essa frase???). Por que lembrou da sua frase do parágrafo acima?? Pois é... melhor voltarmos ao que importa, que é a AÇÃO de Rubens.
 

E Rubens saiu daquela escuridão que se fechava para ele, olhando aquele pontinho de luz que surgia ao fim do muro (Já que não era um túnel), e deixou orgulhosa a alma de muitos brasileiros que engoliam aquele GP de 2002. Gritei de alegria ao ver Schumacher ser jogado para o lado externo da pista (Sem sujeira ou malcaratismo) quando Rubens teve que retornar à pista já que a grama se aproximava e poderia ser o fim da disputa pra ele. E se Rubens ficasse na grama naquele momento, seria criticado pelo Galvão e por toda a imprensa, que diriam que ele arriscou muito diante do Schumacher.
 

E Schumacher não tinha mais como pedir à sua equipe, que avisasse o Frank Williams para manter o seu piloto rebelde na coleira.
 

Rubinho não ganhou a corrida... não. Mas retomou em nós brasileiros o orgulho dos tempos em que Senna disputava posições com adversários. Mas não era Senna.... Era Rubens Barrichelo do Brasil!!!
 

Parabéns Rubinho. Fez o Schumacher engolir a sua raça e mostrar a todos que o Heptacampeão mundial é bom piloto quando corre na frente, mas no meio do bolo é um piloto comum. Acompanhei aqueles momentos como se fossem uma disputa pela primeira posição: vibrava quando barrica se aproximava, tentava empurrar o carro com os olhos para que entrasse o mais junto possível na reta, que era o melhor local para a ultrapassagem.
 
E que ironia, justamente no GP onde vimos a volta descarada do jogo de equipe feito pela Ferrari, em cima de um brasileiro, outro brazuca roubou a cena. E para cima de seu ex-companheiro de equipe.